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Otimismo. Cauteloso, mas otimismo

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Vamos começar olhando duas notícias. A primeira é ruim. Saiu na quinta-feira, dia 3 de abril. Ao que consta, o ministro Guido Mantega finalmente ouviu o que o Banco Central vem dizendo insistentemente há semanas: a combinação entre elevação dos gastos públicos, economia aquecida e dólar fraco turbinaram a inflação e lançaram ao vermelho as contas de transações correntes. Em português: a relação financeira do Brasil com o resto do mundo voltou ao vermelho, como nos primeiros tempos do Plano Real. Quarentões como eu lembram-se da dor de cabeça que isso provocou na economia brasileira.

A segunda é boa, saiu nesta sexta-feira, dia 4 de abril. O economista-chefe do Fundo Monetário Internacional (FMI), Simon Johnson, afirmou que os países exportadores de commodities (como o Brasil) estão mostrando uma resistência surpreendente à crise financeira. Ao divulgar as perspectivas para a economia global, o economista-chefe do Fundo afirmou que, desta vez, países como o Brasil fizeram bom uso do dinheiro ganho nos tempos de fartura e, portanto, estão mais capazes de resistir ao período de vacas magras que se avizinha.

O que podemos decidir, olhando esses dois fatos díspares? Conversei com um amigo de longa data, um dos melhores administradores de fundos do Brasil. Ele tem algumas certezas:

– o mercado financeiro brasileiro vai atravessar um período de turbulência no curto prazo – e "curto", aqui, pode ser até o fim do ano – devido aos ajustes ainda imprevisíveis do sistema financeiro internacional. Ainda há, diz ele, muita água para ser gasta antes que os bancos europeus e americanos possam dizer que limparam seus balanços. Além disso, até o Federal Reserve disse que a economia americana vai atravessar uma recessãon no primeiro semestre. Otimista por dever de ofício, Ben Bernanke, presidente do Fed, jura que a economia americanana volta a engrenar no segundo semestre (meu amigo discorda e apostou um almoço; não topei – já paguei-lhe muitas refeições e ele ganha muito mais do que eu).

– apesar da turbulência, a trajetória geral é positiva, mais até do que no ano passado. Assim como está ocorrendo lá fora, por aqui os bancos estão começando a purgar seus excessos. Como os excessos foram muito menores do que os internacionais, o processo será muito menos traumático. Já começou com a redução de prazos nos financiamentos de veículos, e deverá continuar com suaves restrições voluntárias ao crédito. É uma velha tática do governo: o ministro diz que pensa em baixar uma norma reduzindo os prazos, os bancos vão a Brasília chorar nos pés do santo, decidem reduzir os prazos por conta própria e o ministro se desdiz, colocando a culpa nos jornalistas. Como resultado, o problema – financiamentos longos demais – começa a ser resolvido.

– além do sistema bancário forte e saudável, os dados macroeconômicos mostram um suave, mas perceptível aquecimento dos investimentos em capacidade produtiva. Segundo a Confederação Nacional da Indústria (CNI), os investimentos no aumento da capacidade produtiva da indústria vêm crescendo mais do que o avanço da economia há oito trimestres. Ainda não dá para dizer que superamos os gargalos da infra-estrutura e da baixa capacidade instalada, mas o colapso foi evitado.

Bom, mas e daí? Depois de todo esse arrazoado, o que sobra é que vale a pena apostar no crescimento brasileiro no longo prazo – ou seja, comprar ações é bom negócio no longo prazo. Os solavancos serão muitos nos próximos meses, em virtude das mudanças de humor do mercado, das imprevisibilidades dos preços do petróleo e dos contratos do minério de ferro, mas vale a pena correr o risco – mesmo sabendo que a semana que vem pode começar com uma violenta queda da bolsa.

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Written by gandalfwizard

5 de abril de 2008 às 10:45

Publicado em Bancos, Estados Unidos, Juros

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