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Os bastidores da aquisição da Anheuser-Busch por US$ 52 bilhões

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Durante mais de um ano, a Anheuser-Busch recusou investidas da InBev. Uma semana atrás, seu diretor-presidente, August Busch IV, pegou o telefone para falar com Jorge Paulo Lehmann, membro do conselho da InBev. O sexto membro da família Busch a dirigir a cervejaria americana disse ao brasileiro que queria discutir uma transação amigável.

Isso deu início a cinco dias de negociações nas quais Busch, que há três meses havia declarado ser contra o negócio, foi forçado pelo conselho e acionistas da empresa a aceitar a oferta de US$ 52 bilhões, a maior aquisição em dinheiro feita até hoje. O fim ocorreu num hangar do aeroporto particular Spirit of St. Louis, nos arredores da cidade onde a empresa americana tem sua sede. Depois de uma reunião exaustiva no domingo à tarde, Busch e os conselheiros assinaram a venda que acabaria com quase 150 anos de independência da Anheuser. Foi um momento sombrio para ele, dizem pessoas que estavam lá, sem comemorações ou grandes discursos. Depois, os conselheiros partiram silenciosamente em direções diferentes.

A capitulação da Anheuser foi um reconhecimento de que a empresa tinha dificuldade em oferecer aos acionistas algo melhor que a oferta de US$ 70 por ação feita pela InBev. Apenas alguns dias antes, ela esteve perto de fechar acordo com o mexicana Grupo Modelo, que provavelmente espantaria a transação da InBev. Mas, antes que acordo pudesse ser firmado, a Anheuser fez uma última tentativa para ver se a InBev aumentaria sua oferta inicial. As negociações alcançaram o ponto alto na sexta-feira, no escritório de advocacia Sullivan & Cromwell, em Nova York. Uma equipe de executivos de Saint Louis, entre eles Busch e o diretor financeiro, Randy Baker, passou horas com o CEO da InBev, Carlos Brito. Discutiram os negócios da Anheuser, entre eles os planos de cortar US$ 1 bilhão em custos. Também beberam algumas cervejas produzidas pelas duas empresas. "Foi uma boa química", disse Brito, de 48 anos, em entrevista ontem ao "Wall Street Journal".

Uma das pessoas que participaram da reunião disse que Busch, que tem 44 anos e chegou ao topo da Anheuser há menos de dois, não estava muito alegre. "Estava claramente sombrio, mais que o resto da diretoria."

O que ajudou a acelerar o negócio foi o fato de a Anheuser estar avaliando uma negociação em separado para adquirir o controle da parceira mexicana Modelo. Alguns membros da família proprietária da Modelo estavam interessados em vendê-la, e o esboço de uma transação chegou a ser traçado na semana passada.

Ontem cedo, depois que a InBev e a Anheuser anunciaram seu acordo, a Modelo divulgou uma declaração mostrando-se confiante de que seu acordo com a empresa americana dá a ela o direito de aprovar a venda da Anheuser para a InBev. Brito disse não acreditar que a Modelo possa impedir a transação. Acrescentou que sua empresa e a mexicana iniciaram conversações sobre a parte da Modelo que a InBev herdaria.

O degelo rápido do que pareciam ser relações congeladas entre InBev e Anheuser pegou alguns observadores de surpresa. Na semana passada, a empresa belgo-brasileira passou a tentar substituir o conselho da americana com sua própria leva de conselheiros, enquanto a Anheuser processava a InBev na esfera federal, acusando-a de mentir sobre seus compromissos de crédito.

Mas pessoas próximas das cervejarias enfatizaram que, mesmo nos processos que abriram uma contra a outra, elas sempre se esforçaram ao máximo para elogiar a concorrente. Brito disse que "foi bom que as duas empresas deixaram as diferenças de lado" no fim. "Conhecemos esses caras há muitos anos e tudo isso facilitou as coisas quando finalmente sentamos para negociar." A InBev distribui os produtos da Anheuser no Canadá desde 1980 e as empresas já fecharam vários outros acordos.

No fim a Anheuser ficou vulnerável a uma aquisição, em parte, por causa de sua eterna resistência a investir no exterior – um legado de August Busch III, o pai do atual diretor-presidente. Nos últimos anos, enquanto os negócios nos EUA estagnavam e as microcervejarias ganhavam espaço, a baixa cotação da ação da Anheuser – e sua marca forte – tornaram-na um alvo fácil. "Ficamos todos surpresos que eles não brigaram mais", disse uma pessoa próxima do acordo.

Busch será um dos dois representantes da Anheuser no novo conselho da empresa, formado por 14 membros.

Analistas dizem que é improvável que as autoridades antitruste dos EUA ou da UE se oponham porque a sobreposição das empresas é muito pequena. No domingo, Brito estava no escritório da Sullivan & Cromwell, em Nova York, quando ficou sabendo que o conselho da Anheuser tinha aprovado a venda. Todo mundo na sala comemorou. Brito abriu uma garrafa gelada de Budweiser.

Valor

Link: Os bastidores da aquisição da Anheuser-Busch por US$ 52 bilhões

Written by gandalfwizard

15 de julho de 2008 às 07:46

Publicado em Anheuser-Busch, Fusão, InBev

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