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Bovespa fecha com retração de 11,39%, pior queda desde 1998

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Um mês após a quebra do banco Lehman Brothers, evento que precipitou a piora da crise financeira, as Bolsas de Valores voltaram a ter um dia dramático. A Bovespa (Bolsa de Valores de São Paulo) estendeu seu pregão por meia hora e amargou perdas de 11,39%, a maior queda desde 10 de setembro de 1998. O câmbio disparou, e após uma pesada ação do Banco Central, fechou a R$ 2,16. Na Europa e nos EUA, as Bolsas desabaram: o mercado londrino caiu 7% enquanto em Nova York, a Bolsa local perdeu 7,8%, a pior baixa em 21 anos.

Os investidores tiveram um alívio apenas momentâneo com as medidas trilionárias para resgatar o sistema financeiro. Hoje, o foco se concentrou sobre a "economia real": a perspectiva de que as economias centrais entrem em recessão, com repercussões sobre o restante do planeta.

A Bolsa brasileira acionou novamente o "circuit breaker", às 14h24, interrompendo o pregão por meia hora. O intervalo não foi suficiente para os investidores se acalmarem: o índice Ibovespa continua a sinalizar quedas cada vez maiores e no pior momento do dia, apontou uma retração de 14,72%.

"Os mercados já estão precificando [calculando] uma recessão global. O problema é que o mercado foi pulando de subterfúgio para subterfúgio, acreditando que o tal pacote vai fazer efeito, que os cortes de juros vão funcionar. A questão é que os últimos dados macroeconômicos estão vindo muito ruins", comenta André Simões, gestor de fundos do Modal Asset Management. "A perspectiva para amanhã não é muito melhor. Parece que os governos já fizeram de tudo e os mercados não têm mais no que se agarrar".

Na Bolsa brasileira, as ações líderes, Vale e Petrobras, tiveram baixas na casa dos dois dígitos, de 15,16% e 12,08%, respectivamente. O giro financeiro foi de R$ 8,25 bilhões, inflado pelo vencimento de opções sobre índice (contratos que negociam direitos de compra ou venda de um ativo financeiro).

Para o mercado brasileiro, o "contágio" ocorre por dois canais: primeiro, os investidores estrangeiros respondem por um terço das operações. Isso quer dizer que, se eles perdem em Wall Street, precisam fazer caixa em outra Bolsa.

A Bolsa brasileira também sofre pela grande influência dos preços das commmodities (matérias-primas), num pregão em que as ações mais negociadas são ligadas ao setor de petróleo e gás, minério de ferro e siderúrgicas. Hoje, o barril de petróleo foi cotado a US$ 74,54 (Nova York) no menor nível desde 31 de agosto de 2007.

"O desempenho da Bovespa não reflete o que o mundo pensa do Brasil. Os investidores só estão saindo daqui porque querem liquidez para enfrentar a crise", afirmou o chefe de assuntos políticos e econômicos do Consulado-Geral dos EUA em São Paulo, James Story.

O dólar, um dos ativos mais sensíveis ao estresse dos mercados, oscilou entre a cotação máxima de R$ 2,200 e a mínima de R$ 2,082. E após três intervenções do Banco Central, a moeda americana encerrou o dia cotada a R$ 2,166, em alta de 3,48% sobre a cotação de ontem.

"O Banco Central está usando tudo o que pode mas não está conseguindo segurar o dólar", comenta Vanderley Muniz, operador da corretora gaúcha de câmbio Onnix, que reconhece: "se o Banco Central não estivesse atuando, não dá para saber onde esse dólar poderia chegar".

Profissionais de mercado apontam que as tesourarias de bancos aproveitam o estresse do cenário econômico para puxar os preços, abrindo a diferença cotações de venda e de compra. Um operador chega a dizer que mesmo a greve dos bancos têm contribuído para a ascenção das cotas. Com poucos funcionários, distribuídos por várias agências, os bancos têm feito "jogo duro" na negociação dos preços, queixam-se corretores.

O quadro piora num momento de escassez de linhas para exportadores. Operadores aguardam iniciativas do governo no sentido de fornecer recursos para pequenos e médios empresários do comércio exterior.

As notícias do setor financeiro azedaram o humor dos investidores nesta quarta-feira: dois grandes bancos americanos revelaram os efeitos da crise em seus balanços. O lucro do Wells Fargo caiu 24% (mas superou as estimativas), enquanto o JP Morgan registrou um resultado 84% abaixo dos números de 2007 por causa de problemas com empréstimos.

Para piorar o cenário, a macroeconomia também não forneceu melhores números. As vendas no varejo dos Estados Unidos caíram com a maior intensidade em três anos: uma retração de 1,2%, ante a expectativa de um declínio de 0,7%, estimado por analistas do setor financeiro.

Os dados confirmam a tendência atual dos norte-americanos de reduzir seus gastos ante a crise financeira e a dificuldade de ter acesso ao crédito. O resultado apresenta um aumento significativo do risco de recessão nos Estados Unidos, uma vez que o consumo responde por dois terços da atividade econômica do país.

Hoje, o próprio secretário do Tesouro dos EUA, Henry Paulson, admitiu que a compra, por parte do governo, de ações de instituições bancárias estabilizará o sistema financeiro, mas que continuarão as dificuldades econômicas.

O presidente do Federal Reserve (Fed, banco central americano), Ben Bernanke, por sua vez, afirmou que a economia norte-americana vai se recuperar, porém lentamente. "os problemas na economia e nos mercados são grandes e complexos. Mas a meu ver, nosso governo conta agora com as ferramentas necessárias para enfrentá-los e resolvê-los."

Folha

Link: Bovespa fecha com retração de 11,39%, pior queda desde 1998

Written by gandalfwizard

15 de outubro de 2008 às 21:43

Publicado em BMF Bovespa, Bolsas, Dólar

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