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Sem capital de giro, usinas atrasam pagamento

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A escassez de crédito, que já levou dois grupos sucroalcooleiros do País a requerer recuperação judicial, deve antecipar um novo movimento de fusões e aquisições no setor. O enxugamento do crédito, advindo da crise financeira internacional, tem feito com que algumas usinas, incluindo grupos tradicionais da região de Ribeirão Preto, atrasem o pagamento a fornecedores de cana, o que só faz aumentar os rumores de novos pedidos de recuperação judicial e de que o risco de contaminação pode ser grande no setor.

"O ativo usina, principalmente na região expandida de Ribeirão Preto, que tem logística privilegiada, tem atratividade grande para a compra por parte de bancos, fundos de investimento e até por outras usinas capitalizadas, como o grupo Cosan, que recentemente recebeu aporte de capital da Gávea e de outros fundos", diz o economista Nelson Rocha Augusto, presidente do Banco Ribeirão Preto (BRP).

"A velha conversa de que crise gera oportunidade prevalece", afirma Arnaldo Luiz Corrêa, sócio-diretor da Archer Consulting, especializada em gestão de riscos para commodities agrícolas. Em seu relatório semanal, diz que os ativos das usinas estão muito baratos se comparados a dois anos atrás ou com o valor patrimonial de algumas empresas. "A consolidação do setor virá. O aperto financeiro vivido por várias usinas pode antecipar consolidações, fusões e aquisições no setor", afirma.

"O momento é de rearranjo. O setor já vinha caminhando nesse sentido, mas a interrupção abrupta do fluxo de dinheiro vai precipitar um novo movimento de fusões e aquisições", diz o empresário Maurilio Biagi Filho, presidente da holding Maubisa, de Ribeirão Preto. "Em movimentos como esse, há sempre os que perdem e os que se aproveitam da crise e ganham. A situação é ruim para quem está alavancado em grandes investimentos e boa para que não está", avalia.

Biagi participou do primeiro grande movimento de fusões e aquisições de usinas do País, que começou em 1998, quando da fusão entre as usinas Santa Elisa e São Geraldo, de Sertãozinho (SP), operação que teve a participação do Bradesco, hoje também um candidato a aumentar sua presença no setor. Na época, várias empresas passavam por dificuldades financeiras devido aos baixos preços do açúcar e do álcool e viram nas fusões e aquisições uma maneira de obter ganhos de escala, de reduzir custos e de aumentar a rentabilidade.

Desta nova onda de consolidação do setor, até a Petrobras deve participar, aproveitando-se da queda nos preços dos ativos. Segundo o presidente da Petrobras Biocombustível, Alan Kardec Pinto, a estatal deverá incluir na revisão de seu planejamento estratégico a possibilidade de aquisição de destilarias.Apesar da crise, o economista Rocha Augusto se diz animado com o setor, graças às boas perspectivas de preço e consumo para o açúcar e o álcool.

De fato, na quinzena encerrada em 21 de novembro último, o preço do álcool hidratado subiu 12%, para R$ 0,7654 o litro. Trata-se do melhor preço desde 2 de maio deste ano, quando a cotação do etanol chegou a R$ 0,7659, segundo levantamento do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea), da Escola Superior de Agronomia Luiz de Queiroz, da Universidade de São Paulo (USP).

Rocha Augusto informa aos clientes do BRP que o consumo de álcool subiu 46% entre janeiro a setembro deste ano, em comparação com igual período de 2007. "O mercado do açúcar também indica recuperação de preços", afirma Manoel Ortolan, superintendente da Copercana, uma das maiores cooperativas de plantadores de cana do País, com sede em Sertãozinho. Para ele, a produção mundial de açúcar vai cair. Depois de dois anos, não haverá excedentes, diz.

Segundo a Organização Internacional do Açúcar (OIA), nos 12 meses até 30 de setembro de 2009, o consumo mundial da commodity deverá crescer 2,4%, para 165,9 milhões de toneladas, enquanto a produção deverá cair 3,8%, para 162,3 milhões de toneladas.

Segundo Ortolan, algumas as usinas já vinham tendo dificuldades de pagamentos desde o ano passado, mas a situação piorou nos últimos meses com a falta de crédito. "O ano de 2006 foi bom para o setor. Em 2007, queimou-se gordura e 2008 é um ano de perdas", diz.

Ortolan informa que o custo operacional médio para a produção de uma tonelada de cana-de-açúcar em São Paulo foi de R$ 38 em 2007, enquanto o preço médio da matéria-prima foi de R$ 35 por tonelada. A defasagem aumentou neste ano: o custo subiu para R$ 42 e o preço manteve-se ao redor de R$ 35 a tonelada. Ele lembra que a crise afeta toda a cadeia produtiva canavieira, dos plantadores de cana aos fornecedores de máquinas e equipamentos para usinas.

Estudo do Centro Nacional das Indústrias do Setor Sucroalcooleiro e Energético, que representa as indústrias de base que fornecem equipamentosàs usinas, aponta que a inadimplência das usinas com os fornecedores de máquinas e equipamentos é de 36%. Devido à escassez de crédito, 28,76% dos pedidos das usinas (no total R$ 4,9 bilhões até dezembro de 2009) foram postergados e outros 22,82%, cancelados.

Os pedidos de recuperação judicial realizados neste mês pela usina Albertina, de Sertãozinho, e pelo Grupo Naum, com três unidades em Goiás, apenas sinalizam para o início do movimento de aquisições e fusões no setor sucroalcooleiro.

Com 380 usinas e destilarias, 200 grupos econômicos e faturamento de US$ 25 bilhões, o setor também freia o maior plano de investimento, desde o Programa Nacional do Álcool (Proálcool), há mais de três décadas.

Gazeta Mercantil

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Written by gandalfwizard

27 de novembro de 2008 às 10:01

Publicado em Açúcar, Dívida, Etanol

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