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Anotações ou Gravações
Sempre acreditei que a idéia de guardar informações por escrito seria o melhor meio de armazenar e consultar as mesmas no futuro, porém essa forma têm um problema, o tempo demandado para produzi-las é sempre superior comparado ao gasto se você externasse a mesma idéia através de uma simples conversa.
“A música não exprime nunca o fenômeno, mas unicamente a essência íntima de todo o fenômeno, numa palavra a própria vontade.”
Arthur Schopenhauer
Resolvi experimentar as gravações, e foi então que me deparei com uma excelente ferramenta para preparar esses registros de conversa de forma simples e rápida, o Audacity, um programa gratuito e de código aberto, com excelentes ferramentas, observei alguns tutoriais sobre o soft (como os desses vídeos Introdução ao Audacity e Ferramentas do Audacity) e logo comecei a usar.
Nas análises de compra e venda a forma de usar é bem simples, tento fazer uma exposição o mais detalhada possível dos motivos que me levam a comprar o ativo, desde condições gerais do mercado, passando por dados específicos da empresa, e exponho a partir dessas informações o que espero do ativo, e quais objetivos tenho, em alguns casos até estratégias para alternativas ao cenário imaginado, e sempre tentando usar datas e valores da forma mais precisa que for possível.
A partir desse ponto funciona como as anotações escritas, basta escutá-las sempre que você achar que algo no cenário inicialmente planejado mudou, ou algum dos objetivos foi alcançado. Finalmente se decido vender exponho novamente tudo que analisei na hora da compra fazendo as comparações e retificações que forem necessárias, e analisando a qualidade da análise e da estratégia.
Portanto em resumo funciona como um diário de bordo, com todos os detalhes para análises posteriores, porém até o momento tenho tido apenas um problema com essa forma de gravação, que é a dificuldade de buscas no conteúdo gravado.
Enquanto nos textos posso fazer pesquisas rápidas por nome do ativo, ou preço de compra, ou qualquer outro dado no corpo do texto; nos áudios a pesquisa fica restrita ao nome dos arquivos e datas, tento ser exaustivamente descritivo na criação do nomes, colocando além do nome do ativo, as análises que fiz, e alguns dados que me chamam atenção, porém não é possível saber todo o conteúdo apenas por esse nome.
Tentei buscar por programas que pudessem fazer a busca dentro do conteúdo, encontrei algo online, o Pluggd, porém ainda é bastante precário, e não é um programa que pudesse deixar na minha maquina e fazer uma busca rápida como o Google Desktop pode fazer num texto.
Então nesse momento estou novamente repensando esse método de armazenagem, se não encontrar uma forma eficiente de indexar as gravações, a praticidade de criá-las se perderá na dificuldade de consultá-las, e digo isso com menos de um centena que gravei até o momento, o que poderei fazer então com alguns anos de armazenagem?
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Fragmentos de um conto da adolescência
Essa história que coloco me chamou muita atenção, não sei se apenas por um sentimento de nostalgia, ou pela constatação de que Tolkien me inspirava absurdamente e eu nem sequer percebia, exceção a primeira pessoa uma obcessão pessoal. Pena que apenas inspirava não garantia a qualidade, mas para quem gosta do estilo, seque o trecho.
Para constar, o nome da história era “O Reino de São Vitor”.
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Após meses de trabalho para conseguir as armas, tudo estava pronto. Duas mil espadas, dois mil escudos, duzentos machados de batalha e mil e quinhentas armaduras completas, novos e de alta qualidade, agora se apresentava o maior desafio, levá-las até Lorde Vitor.
Havia duas opções: uma viagem por terra de Vlachia até São Vitor, o que levaria meses, e teria pouca ou nenhuma chance de chegar com as armas ao destino. A outra seria levá-las por terra de Vlachia à Ribamar, e então conseguir um barco que pudesse transportá-las até São Vitor, nessa última encontravam-se nossas esperanças.
Começamos a preparar a coisa toda, mandamos que Marcos e William fossem para Ribamar, tentar conseguir os navios, eles precisavam conseguir três grandes navios, com tripulações dispostas a nos levar até São Vitor. Porém o mais importante, teriam de fazê-lo sem chamar a atenção sobre si, afinal não queríamos terminar nas mãos de um bando de assaltantes.
Acompanhados de dois seguranças reais, eles seguiram, e ficou acertado que em exatos trinta dias partiríamos de Vlachia, e estando tudo pronto, eles deveriam estar de volta antes dessa data.
Continuamos com os preparativos em Vlachia para conseguir as carroças para o transporte. Sempre a noite, e da forma mais discreta possível, íamos as mais diferentes companhias de transporte, e contratávamos os carroceiros. Ao final de vinte dias tínhamos contratado quarenta carroças e pessoal para fazer o transporte.
O nosso cuidado era tanto, que nenhum deles sabia quando ia fazer o transporte, muito menos o que iria transportar, nem da existência de outros na caravana. Precisávamos ainda cuidar de uma tarefa mais delicada, contratar mais seguranças para o comboio, tínhamos dez no nosso grupo, porém precisávamos de mais.
Faltando apenas um dia para o prazo da partida, tudo estava pronto, as carroças foram aos poucos sendo levadas para fora da cidade e sendo carregadas, porém Marcos e William não haviam voltado, e nos perguntávamos o que haveria acontecido com eles?
A luz do sol esmaecia e a partida se aproximava, porém os dois não haviam chegado, todos aguardavam no local da partida ao lado das carroças prontas. Apenas Luís e eu ficamos na hospedaria para aguardar até o último momento a chegada dos dois.
Algumas horas se passaram e nada mudou, Luís buscava algo para aperta entre os dedos inquietos que teimavam em tamborilar a mesa. Por fim de súbito levantou-se e decidiu ir até a entrada da cidade atrás deles.
Permaneci, a cidade estava vazia, a lua estava alta, quando do meio da escuridão surge Luís, esbaforido, acompanhado de um outro homem jovem, que parecia exausto e apavorado.
– Morair, rápido ajude-nos. – Gritou Luís ao amparar o jovem que desfalecia.
Trouxemos o garoto para dentro, e cuidamos dele, além de cansado, ele tinha uma marca na cabeça, como se tivesse sido golpeado, mas assim que começamos a limpar seu ferimento, ele despertou, dizendo tenho um recado para Morair.
Insistimos para que ficasse quieto, e nos deixasse cuidar do machucado, antes de conversar, porém ele ficava cada vez mais aflito, até que nos dispusemos a ouvi-lo.
– O senhor Marcos me mandou. Tenho um recado para o senhor Morair.
– Eu sou Morair – respondi.
– Ele pediu para que o senhor se apresse e tenha cuidado, pois eles já sabem de tudo!
– Eles quem? – Perguntou Luís.
– O senhor Luís não disse, o recado era apenas esse.
– Só pode ser uma pessoa Luís, e nós sabemos quem, ele de algum modo soube de nossa partida de São Vitor.
– Há quanto tempo você saiu de Ribamar?
– Ontem pela manhã, fiz a viagem sem parar.
– Não podemos mais perder tempo Luís, vamos para a caravana.
– E você irá conosco, garoto. Nós cuidaremos de você.
Num galope cego, os dois cavalos cruzaram Vlachia, como fantasmas, em total escuridão, logo alcançamos a caravana, e quase passamos sem percebê-la, pois apesar do tamanho nenhuma luz ou barulho podia ser percebido, até chegarmos bem perto.
Luís dá uma ordem aos carroceiros e o comboio começa um lento movimento.
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Preparei um novo módulo para Google IG, que permite acompanhar a Bovespa no Intraday, postarei aqui em alguns dias. E talvez mais algum trecho dessa aventura “Nerd Tolkiana”.
Certidão de Nascimento do Brasil
Carta a El Rei D. Manuel
Senhor,Posto que o Capitão-mor desta Vossa frota, e assim os outros capitães escrevam a Vossa Alteza a notícia do achamento desta Vossa terra nova, que se agora nesta navegação achou, não deixarei de também dar disso minha conta a Vossa Alteza, assim como eu melhor puder, ainda que — para o bem contar e falar — o saiba pior que todos fazer!
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E assim seguimos nosso caminho, por este mar de longo, até que terça-feira das Oitavas de Páscoa, que foram 21 dias de abril, topamos alguns sinais de terra, estando da dita Ilha — segundo os pilotos diziam, obra de 660 ou 670 léguas — os quais eram muita quantidade de ervas compridas, a que os mareantes chamam botelho, e assim mesmo outras a que dão o nome de rabo-de-asno. E quarta-feira seguinte, pela manhã, topamos aves a que chamam furabuchos.Neste mesmo dia, a horas de véspera, houvemos vista de terra! A saber, primeiramente de um grande monte, muito alto e redondo; e de outras serras mais baixas ao sul dele; e de terra chã, com grandes arvoredos; ao qual monte alto o capitão pôs o nome de O Monte Pascoal e à terra A Terra de Vera Cruz!
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Entre todos estes que hoje vieram não veio mais que uma mulher, moça, a qual esteve sempre à missa, à qual deram um pano com que se cobrisse; e puseram-lho em volta dela. Todavia, ao sentar-se, não se lembrava de o estender muito para se cobrir. Assim, Senhor, a inocência desta gente é tal que a de Adão não seria maior — com respeito ao pudor.Ora veja Vossa Alteza quem em tal inocência vive se convertera, ou não, se lhe ensinarem o que pertence à sua salvação.
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Contudo, o melhor fruto que dela se pode tirar parece-me que será salvar esta gente. E esta deve ser a principal semente que Vossa Alteza em ela deve lançar. E que não houvesse mais do que ter Vossa Alteza aqui esta pousada para essa navegação de Calicute bastava. Quanto mais, disposição para se nela cumprir e fazer o que Vossa Alteza tanto deseja, a saber, acrescentamento da nossa fé!
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Beijo as mãos de Vossa Alteza.Deste Porto Seguro, da Vossa Ilha de Vera Cruz, hoje, sexta-feira, primeiro dia de maio de 1500.
Pero Vaz de Caminha.
Leia na íntegra: Carta de Pero Vaz de Caminha
Desta Ilha, do Brasil, hoje, sábado, vigéssimo segundo dia de abril de 2006.
Discurso em 2001 de Cristovam Buarque, sobre a Internacionalização da Amazônia
INTERNACIONALIZAÇÃO DA AMAZÔNIA
Educador e político, nascido em Pernambuco, doutor em Economia, foi reitor da Universidade de Brasília e governador do Distrito Federal. Eleito Senador em 2002, é atualmente Ministro da Educação.(1)
“Fui questionado sobre o que pensava da internacionalização da Amazônia, durante um debate recente, nos Estados Unidos. O jovem introduziu sua pergunta dizendo que esperava a resposta de um humanista e não de um brasileiro. Foi a primeira vez que um debatedor determinou a ótica humanista como o ponto de partida para uma resposta minha. De fato, como brasileiro eu simplesmente falaria contra a internacionalização da Amazônia.
Por mais que nossos governos não tenham o devido cuidado com esse patrimônio, ele é nosso. Respondi que, como humanista, sentindo o risco da degradação ambiental que sofre a Amazônia, podia imaginar a sua internacionalização, como também de tudo o mais que tem importância para a humanidade.
Se a Amazônia, sob uma ótica humanista, deve ser internacionalizada, internacionalizemos também as reservas de petróleo do mundo inteiro. O petróleo é tão importante para o bem-estar da humanidade quanto a Amazônia é para o nosso futuro. Apesar disso, os donos das reservas sentem-se no direito de aumentar ou diminuir a extração de petróleo e subir ou não o seu preço. Os ricos do mundo, no direito de queimar esse imenso patrimônio da humanidade.
Da mesma forma, o capital financeiro dos países ricos deveria ser internacionalizado. Se a Amazônia é uma reserva para todos os seres humanos, ela não pode ser queimada pela vontade de um dono, ou de um país.
Queimar a Amazônia é tão grave quanto o desemprego provocado pelas decisões arbitrárias dos especuladores globais. Não podemos deixar que as reservas financeiras sirvam para queimar países inteiros na volúpia da especulação.
Antes mesmo da Amazônia, eu gostaria de ver a internacionalização de todos os grandes museus do mundo. O Louvre não deve pertencer apenas à França. Cada museu do mundo é guardião das mais belas peças produzidas pelo gênio humano. Não se pode deixar que esse patrimônio cultural, como o patrimônio natural amazônico, possa ser manipulado e destruído pelo gosto de um proprietário ou de um país. Não faz muito, um milionário japonês decidiu enterrar com ele um quadro de um grande mestre. Antes disso, aquele quadro deveria ter sido internacionalizado.
Durante o encontro em que recebi a pergunta, as Nações Unidas reuniam o Fórum do Milênio, mas alguns presidentes de países tiveram dificuldades em comparecer por constrangimentos na fronteira dos EUA. Por isso, eu disse que Nova York, como sede das Nações Unidas, deveria ser internacionalizada. Pelo menos Manhatan deveria pertencer a toda a humanidade. Assim como Paris, Veneza, Roma, Londres, Rio de Janeiro, Brasília, Recife, cada cidade, com sua beleza específica, sua história do mundo, deveria pertencer ao mundo inteiro.
Se os EUA querem internacionalizar a Amazônia, pelo risco de deixá-la nas mãos de brasileiros, internacionalizemos todos os arsenais nucleares dos EUA. Até porque eles já demonstraram que são capazes de usar essas armas, provocando uma destruição milhares de vezes maior do que as lamentáveis queimadas feitas nas florestas do Brasil.
Nos seus debates, os atuais candidatos à presidência dos EUA têm defendido a idéia de internacionalizar as reservas florestais do mundo em troca da dívida. Comecemos usando essa dívida para garantir que cada criança do mundo tenha possibilidade de ir à escola. Internacionalizemos as crianças tratando-as, todas elas, não importando o país onde nasceram como patrimônio que merece cuidados do mundo inteiro. Ainda mais do que merece a Amazônia. Quando os dirigentes tratarem as crianças pobres do mundo como um patrimônio da humanidade, eles não deixarão que elas trabalhem quando deveriam estudar; que morram quando deveriam viver.
Como humanista, aceito defender a internacionalização do mundo. Mas, enquanto o mundo me tratar como brasileiro lutarei para que a Amazônia seja nossa. Só nossa.”
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