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Discurso em 2001 de Cristovam Buarque, sobre a Internacionalização da Amazônia

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Texto que tenho como um dos melhores, na exposição do direito à propriedade, e na sua abordagem sobre problemas relacionados a distribuição de riquezas. Independetemente do caráter pólitico ou ideológico que o permeiam, por isso transcrevo.

INTERNACIONALIZAÇÃO DA AMAZÔNIA


Educador e político, nascido em Pernambuco, doutor em Economia, foi reitor da Universidade de Brasília e governador do Distrito Federal. Eleito Senador em 2002, é atualmente Ministro da Educação.(1)

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Durante um debate em uma Universidade, nos Estados Unidos em 2001, Buarque foi questionado por um estudante — que disse solicitar a resposta de um humanista e não de um brasileiro — acerca da internacionalização da Amazônia. Sua resposta, brilhante, foi dada de improviso. Posteriormente Buarque escreveu-a, sob a forma de um artigo, que aqui reproduzimos.
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“Fui questionado sobre o que pensava da internacionalização da Amazônia, durante um debate recente, nos Estados Unidos. O jovem introduziu sua pergunta dizendo que esperava a resposta de um humanista e não de um brasileiro. Foi a primeira vez que um debatedor determinou a ótica humanista como o ponto de partida para uma resposta minha. De fato, como brasileiro eu simplesmente falaria contra a internacionalização da Amazônia.

Por mais que nossos governos não tenham o devido cuidado com esse patrimônio, ele é nosso. Respondi que, como humanista, sentindo o risco da degradação ambiental que sofre a Amazônia, podia imaginar a sua internacionalização, como também de tudo o mais que tem importância para a humanidade.

Se a Amazônia, sob uma ótica humanista, deve ser internacionalizada, internacionalizemos também as reservas de petróleo do mundo inteiro. O petróleo é tão importante para o bem-estar da humanidade quanto a Amazônia é para o nosso futuro. Apesar disso, os donos das reservas sentem-se no direito de aumentar ou diminuir a extração de petróleo e subir ou não o seu preço. Os ricos do mundo, no direito de queimar esse imenso patrimônio da humanidade.

Da mesma forma, o capital financeiro dos países ricos deveria ser internacionalizado. Se a Amazônia é uma reserva para todos os seres humanos, ela não pode ser queimada pela vontade de um dono, ou de um país.

Queimar a Amazônia é tão grave quanto o desemprego provocado pelas decisões arbitrárias dos especuladores globais. Não podemos deixar que as reservas financeiras sirvam para queimar países inteiros na volúpia da especulação.

Antes mesmo da Amazônia, eu gostaria de ver a internacionalização de todos os grandes museus do mundo. O Louvre não deve pertencer apenas à França. Cada museu do mundo é guardião das mais belas peças produzidas pelo gênio humano. Não se pode deixar que esse patrimônio cultural, como o patrimônio natural amazônico, possa ser manipulado e destruído pelo gosto de um proprietário ou de um país. Não faz muito, um milionário japonês decidiu enterrar com ele um quadro de um grande mestre. Antes disso, aquele quadro deveria ter sido internacionalizado.

Durante o encontro em que recebi a pergunta, as Nações Unidas reuniam o Fórum do Milênio, mas alguns presidentes de países tiveram dificuldades em comparecer por constrangimentos na fronteira dos EUA. Por isso, eu disse que Nova York, como sede das Nações Unidas, deveria ser internacionalizada. Pelo menos Manhatan deveria pertencer a toda a humanidade. Assim como Paris, Veneza, Roma, Londres, Rio de Janeiro, Brasília, Recife, cada cidade, com sua beleza específica, sua história do mundo, deveria pertencer ao mundo inteiro.

Se os EUA querem internacionalizar a Amazônia, pelo risco de deixá-la nas mãos de brasileiros, internacionalizemos todos os arsenais nucleares dos EUA. Até porque eles já demonstraram que são capazes de usar essas armas, provocando uma destruição milhares de vezes maior do que as lamentáveis queimadas feitas nas florestas do Brasil.

Nos seus debates, os atuais candidatos à presidência dos EUA têm defendido a idéia de internacionalizar as reservas florestais do mundo em troca da dívida. Comecemos usando essa dívida para garantir que cada criança do mundo tenha possibilidade de ir à escola. Internacionalizemos as crianças tratando-as, todas elas, não importando o país onde nasceram como patrimônio que merece cuidados do mundo inteiro. Ainda mais do que merece a Amazônia. Quando os dirigentes tratarem as crianças pobres do mundo como um patrimônio da humanidade, eles não deixarão que elas trabalhem quando deveriam estudar; que morram quando deveriam viver.

Como humanista, aceito defender a internacionalização do mundo. Mas, enquanto o mundo me tratar como brasileiro lutarei para que a Amazônia seja nossa. Só nossa.”

FIGUEIREDO, CARLOS, 100 DISCURSOS HISTÓRICOS BRASILEIROS, 1ª EDIÇÃO, EDITORA LEITURA, BELO HORIZONTE, 2003.[bb]

(1). Cristovam Buarque é engenheiro mecânico, formado pela Universidade Federal de Pernambuco, em 1966, e doutor em Economia pela Sorbonne, Paris, em 1973. Entre 1973 e 1979, trabalhou no Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), em Washington, e desde 1979 é professor da Universidade de Brasília, da qual foi reitor de 1985 a 1989. Entre 1995 e 1998 governou o Distrito Federal e em 2002 elegeu-se senador pelo Distrito Federal. Assumiu o Ministério da Educação (MEC) em janeiro de 2003 e permaneceu no cargo até janeiro de 2004. É membro do Instituto de Educação da Unesco.

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Written by gandalfwizard

20 de abril de 2006 at 16:10

Digitalização e Memória Cultural

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Pesquisar é preciso, e criar os bancos de dados para isso é fundamental. Essa frase parece deslocada, porém esse é o sentimento comum quando buscamos dados sobre a história recente de nosso país, até orgão legislativos que teriam por obrigação legal o dever da memória, ainda estão longe de alcançar essa memória, em especial quando se trata da perpetuação dessa memória na digitalização.

Os projetos de digitalização de documentos no Senado Federal e na Camara dos Deputados, começaram a mais de 5 anos, porém ainda é difícil encontrarmos completamente digitalizado, qualquer documento produzidos em data anterior a 1999, com exceção de dados de referência para consultas em papel, ou documentos de contêudo normativo. Ressaltando que estes dois orgãos são, provavelmente, os que mais têm se engajado na luta pela digitalização de seus documentos no Brasil.
O que dizer então de alguns orgão como a Biblioteca Nacional, não sei exatamente o percentual de digitalização de seu acervo, mas utilizando o sistema de consulta percebe-se que pouco está disponibilizado, além de fichas e livros esporádicos.
De tudo isso o que me preocupa, é algo que nos últimos anos assolou dezenas de baluastres de nossa história, cite-se roubos em museus, incêndios em bibliotecas e acervos públicos. Ressalte-se caso recente, retratado amplamente na imprensa, sobre a queima de documentos pertencentes ao Exército brasileiro em um quartel na Bahia, a mando ou por desmando de não se sabe quem.
Tenho por opinião clara que a proteção do acervo intelectual do país é preemente, e todos os recursos possíveis devem ser direcionados nesse sentido, pois não podemos correr o risco de perder um patrimônio tão rico e conquistado com tantas dificuldades, já tão degradado e ferido pelo passar dos anos e pelo descaso quanto eu real valor.
Se há alguns poucos anos a conservação do patrimônio intelectual e artístico era tão caro quanto de difícl execução, essa realidade não se perfaz hoje, onde podemos ter a digitalização de livros, manuscritos, e até mesmo obras de pintura e escultura por processo específicos, a custos baixos, permitindo não apenas a conservação, mas o acesso dessas obras para um número crescente de pessoas.
Nos últimos meses o Google, através de um projeto chamado , tem caminhado a passos largos para um destino que vejo como inevitável e fantástico ao mesmo tempo, a possibilidade de digitalizar grandes bibliotecas e tê-las ao acesso de uma ferramenta de busca versátil como o Google. E somente para citar bibliotecas como a Biblioteca Pública de New York, bibliotecas de Universidades como Harvard e Carnegie Mellon e a biblioteca do Congresso Americano já são parceiras para ajudar na digitalização de obras para o novo projeto.
Meu entusiasmo dentro dessa possibilidade acaba por tornar apaixonado alguns de meus comentários, mas acredito que nada do que foi dito se afasta tanto do limite do possível.
Saindo dessa linha de raciocínio e lembrando um ponto levantado no último post, sobre o porquê das inúmeras rivalidade e dos dualismos, gostar e odiar, dentro de uma família faço agora alguns apontamentos.
Observando e pondo pontos de comparação pude observar um fato. A maior proximidade entre pessoas da mesma família quando colocamos em contraponto grupos que tem menor convivência como colegas de trabalho, apresentam grandes diferença entre esses sentimentos de desgostar e gostar, parece que ambos perdem intensidade, com isso me permito concluir que o maior convívio e a maior proximidade deste, leva a sentimentos mais viscerais.
Porém várias questões permanecem completamente em aberto, pois apesar da observação acima, essa relação entre maior proximidade e maior força nos sentimentos não parece ocorrer de forma linear, em alguns momentos ou em determinados grupos de indivíduos isso parece funcionar de forma diferente, portanto outros fatores devem estar influenciando. Um fator que me parece relevante e que deve ser analisado é a afinidade, que eu prefiro definir como pessoas que estejam focando objetivos semelhante no mesmo momento.
Voltarei a fazer mais considerações sobre esse ponto nos próximos posts, e também gostaria de poder expor algumas de minhas idéias, sobre como o impulso da criação de cultura humana pode ser melhor incentivado sem a preservação dos direitos autorais que, em minha opinião, caminham em direção oposta a criação intelectual. Porém como são muitas questões, que devem ser discutidas ponto a ponto, deixarei para descrevê-la no próximo post.

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Written by gandalfwizard

30 de dezembro de 2004 at 21:19